O compositor deste mês na Cultura FM imortalizou-se por ter “inventado”, literalmente, “o som dos faroestes de Hollywood”, na feliz expressão do jornalista brasileiro João Máximo em seu excelente livro “A música do cinema” (2 vols., Editora Rocco, 2004).
O curioso é que suas criações musicais que mais marcaram esta sonoridade tão característica não foram escritas especificamente para o cinema, como vamos conhecer diariamente ao longo deste mês no Rádio Metrópolis e no Tarde Cultura.
Mas o norte-americano Aaron Copland, nascido em Brooklyn, no Estado de Nova York, em 1900, é bem mais do que isso. Em seus noventa anos de vida, foi sempre figura dominante na música norte-americana.
Na década de 1920 já era plenamente reconhecido. Seus pais eram judeus russos. A mãe Sarah cantava e tocava piano; sua irmã Laurine foi sua primeira professora. Entre os 17 e os 21 anos, estudou com Rubik Goldmark, um tradicionalista que também foi professor de Gershwin. Paralelamente, apaixonou-se pela Revolução Russa de 1917 e rapidamente passou a integrar o círculo comunista nos Estados Unidos – um comprometimento que manteve por décadas.
Entre 1921 e 1924, estudou com Nadia Boulanger em Paris. De volta para casa, assumiu a liderança da Liga de Compositores, criou a série de concertos chamado Copland-Sessions, referência ao parceiro compositor Roger Sessions.
A preocupação de “criar uma música tipicamente norte-americana”, esta era sua expressão, levou-o a considerar-se um sucessor de Charles Ives. Um credo artístico que incluía a influência do jazz – porém sem incorporar diretamente melodias populares. “Não queríamos criar um spiritual, queríamos encontrar uma música que falasse de coisas universais numa linguagem e ritmo autenticamente americanos”.
Entre 1926 e 27, retornou à Europa – e de lá voltou mais modernista. Deu cursos sobre Arnold Schoenberg em Nova York. Mas a veia engajada falou mais alto na década da depressão, a de 1930. A ânsia de combinar a crítica social com uma música que atingisse as massas levou-o a um estilo que a crítica chamou de populista, ou seja, de fatura convencional e fortemente inspirada nas músicas populares das Américas, incluindo a América Latina. De certo modo, conseguiu seu objetivo com obras que até hoje são muito conhecidas, como “El Salón México”, de 1933, a música para balés como Billy the Kid e Rodeo. São estes sons que influenciaram de modo decisivo o jeitão das trilhas trilhas sonoras em Hollywood, sobretudo nos faroestes.
Sua popularidade atingiu o auge durante a Segunda Guerra Mundial – quando escreveu “The Lincoln Portrait”, “Appalachian Spring” e a “Fanfarra para um homem comum”.
Copland esteve duas vezes no Brasil, a serviço do programa de boa vizinhança posto em prática pelo governo norte-americano para fortalecer sua influência nos países latino-americanos – a Guerra Fria começava a se impor como tabuleiro ideológico do mundo. Ele veio para selecionar compositores que seriam levados aos Estados Unidos e lá teriam suas obras executadas e divulgadas. Na Argentina, encantou-se com Ginastera. E no Brasil com Camargo Guarnieri. Um episódio ocorrido no Rio de Janeiro dá bem a medida da cartilha nacionalista e folclorista-populista de Copland: ele se encontrou com Hanns Joachim Koellreutter, que comandava o movimento Música Nova, espelhado no serialismo de Arnold Schoenberg. O norte-americano o descreveu duramente. E, de quebra, ainda desqualificou os jovens compositores brasileiros como Guerra-Peixe e Claudio Santoro, então próximos de Koellreutter. Deste, disse que era um “típico germânico dodecafônico” que “encorajou um bando de paspalhos a imaginarem que eram compositores”.
Como se vê, Copland sempre foi um compositor muito combativo, militante em suas posições artísticas e políticas. Foi não só com esta tenacidade, mas com muito talento que ele construiu uma obra importante na cena norte-americana do século 20.
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